Para que se consolidem os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), é fundamental a criação de políticas de saúde que estejam focadas não só na mudança de modelo de atenção, mas na formação e capacitação dos trabalhadores de saúde. Nesse sentido, a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) fechou um ciclo de discussões sobre a qualidade dada aos recursos humanos em saúde e abriu outro, o de utilizar ferramentas pedagógicas, no intuito de auxiliar os trabalhadores a tornarem-se mais autônomos e reflexivos. O curso oferecido em parceria com o Ministério da Saúde e a ENSP/Fiocruz, para a capacitação de trabalhadores da saúde para serem facilitadores de Educação Permanente em Saúde (EPS) em todo o Brasil foi um exemplo disso. Este estudo teve como objetivo analisar as atuais concepções de EPS dos facilitadores capacitados pela ENSP/Fiocruz no período de 2007 a 2008 no município de Marília-SP e suas percepções acerca dessas práticas. Realizou-se uma pesquisa de campo, caracterizada por um estudo exploratório-descritivo com abordagem quanti-qualitativa, que teve como sujeitos 31 indivíduos indicados pelo gestor municipal, que concluíram o Curso de Facilitadores de EPS pela ENSP/Fiocruz no ano de 2008. Os facilitadores responderam a um questionário composto por 07 questões fechadas e 02 abertas, que foram analisadas de forma quantitativa, por porcentagem e qualitativa pela análise de conteúdo categorial temática. O perfil encontrado foi de profissionais enfermeiros predominantemente do sexo feminino, trabalhadores do serviço público assistencial, com idade acima de 29 anos e com títulos de pós-graduação. Em relação às contribuições, verificou-se que alguns facilitadores conceituaram que a EPS é uma ferramenta pedagógica enfatizando o processo de aprendizagem com construção de conhecimento, por meio de reflexões acerca de sua implicação na produção de seu trabalho; alguns tiveram uma abordagem ampliada do método da problematização como suporte para se descrever as práticas de EPS; creditaram que a EPS os auxiliava no desenvolvimento relacional entre os pares; entenderam que a relação teoria-prática, por meio de reflexão crítica fomentava mudanças no processo de trabalho. Porém, encontrou-se muitos desafios: alguns possuíam compreensões superficiais da EPS ou ainda entendimento divergente do referencial teórico da PNEPS, confundindo-as com
outros conceitos, relacionaram-nas a um modelo de Planejamento Estratégico Situacional, supervalorizando o processamento de problemas, sem levar em consideração a subjetividade dos sujeitos; viram a EPS como ferramenta de gestão do processo de trabalho, mas não a identificaram como um dispositivo pedagógico e não reconheceram a necessária implicação e autonomia dos sujeitos; enfatizaram a EPS como processo de aprendizado sem ao menos citar as possíveis transformações da prática. Reduziram a essência do método causando um déficit na descrição das práticas e repercussões da EPS. Portanto, sugere-se que os processos de EPS recebam acompanhamento, monitoramento e avaliações constantes a fim de se assegurar seu balizamento e desenvolvimento, reforçando seus referenciais teóricos, metodologia e fortalecendo seus resultados.